2004/02/29

Fim de Ciclo 

Ao fim de quase nove meses destas andanças e de várias matanças, inúmeras postas, polémicas várias, mais de 75.000 visitas e, perdoe-se-nos a falta de modéstia, alguma intervenção cívica, o Mata-Mouros termina hoje a sua existência enquanto blogue.

Não se trata de nenhum abandono, cansaço ou desilusão, mas a integração num projecto mais ambicioso, em que os ainda “matadores” participarão activamente com ânimo redobrado.

Dentro de momentos, nascerá um novo blogue – BLASFÉMIAS – como resultado da 1ª fusão na lusa-blogosfera, integrando o Mata-Mouros, o Cataláxia e o Cidadão Livre. Duas noitadas no Ateneu foi quanto bastou para se acordar esta fusão amigável, obviamente facilitada pela convicção e forma de estar liberal que todos partilhamos. Espírito liberal esse que transitará inalterado para o BLASFÉMIAS, que não sentirá minimamente o “choque de culturas” tão receado nas fusões, antes se garantindo à partida uma perfeita osmose.

Qualquer um de nós anda aqui apenas pelo gozo que isto nos dá e não por qualquer espírito de missão. Materialmente, implica até algum sacrifício. Mas enquanto tivermos disposição para cá andar, queremos fazer uma intervenção que valha a pena, sobretudo numa óptica qualitativa. A fusão que agora se concretiza, permite ganhar massa crítica, fundamental para que possamos intervir numa base permanente e focando várias temáticas em simultâneo.

As sinergias (palavrão obrigatório sempre que se fala em fusões) também serão evidentes. Não só porque o todo é nestes casos superior à soma das partes, mas porque no BLASFÉMIAS seremos não 5, mas 7 a escrever. Para além dos elementos dos blogues fusionados, integram também este projecto o PMF (um “matador honorário”, cuja “mailada” opinião redundava sempre numa excelente posta) e, a cereja no bolo, a Sara Müller, a grande dinamizadora do novo blogue e que será, indubitavelmente, o nosso Fundo de Coesão.

E assim arrumamos a lança e a espada, que substituiremos por uma arma mais sofisticada: a blasfémia. A todos aqueles que nos leram e no fundo nos deram ânimo para fazer do Mata-Mouros um blogue de referência, O NOSSO MUITO OBRIGADO. Já daqui a instantes, poderão encontrar-nos neste endereço onde esperamos não os desiludir:
http://ablasfemia.blogspot.com

Carlos Abreu Amorim
Carlos Loureiro
Luís Rocha


Por Santiago, de novo e sempre 


Canção da despedida 

É preciso acabar com a serenidade!
A grande questão é saber se ainda existe o discernimento para os portugueses conhecerem e ultrapassarem os males que os afligem. Os guardiães do sistema como ele está, insistem, a todo o tempo, nos apelos à “serenidade”.
Mas qual o seu significado? Sobretudo causar um estado geral de inacção, de apatia, evitar reacções, reflexões, percepções, que possam levar as pessoas a compreender que as coisas em Portugal funcionam ao contrário daquilo que lhes têm dito.
Surgem dúvidas sobre o funcionamento da Justiça? Tenhamos serenidade! Mentiram-nos acerca do estado das contas públicas? Haja serenidade! A administração pública portuguesa é a mais cara e ineficiente da Europa? Aguentemos com serenidade! A corrupção invade os poderes públicos? O que é preciso é serenidade! As corporações impedem qualquer reforma neste país? Bom, desde que não se perca a serenidade... Algumas das figuras mais mediáticas parecem ter esquecido os rudimentos da moral? Serenidade!
Esta expressão, de tão esbanjada, tornou-se já no símbolo do regime, na imagem de marca desta nossa “sereníssima” república. O que se pretende é garantir um espírito de bovinidade generalizada, de olhar sem ver nem perceber os graves problemas que nos atingem.
O pior é que estes apelos estão a ter demasiado êxito. Apesar de tudo o que se passa, os portugueses continuam cheios de “serenidade”.

Canção do Infiel 


Santiago el de España (do Porto)
los mis moros me mató,
desbarató mi compaña,
la mi seña quebrantó...
Santiago glorioso
los moros fizo morir;
Mahomat el Perezoso,
tardo, non quiso venir

O Norte em blogue 

Nortugal, assim se chama o blogue do nosso amigo Paulo Vaz. Obviamente a tratar dos temas que lhe são mais caros, a Regionalização e o Norte. Sobre estes assuntos, Paulo Vaz tem ideias muito bem estruturadas. Visita indispensável. Para nós é (será) um estimulante.

Não há caducidade 

Ao fim de tantos artigos dominicais, acho que hoje foi a primeira vez que Augusto M. Seabra não fez a defesa de algum recôndito interesse da indústria em que labuta - conhecida, genericamente, por "cultura" - nem concluiu pela imperiosa necessidade de se derramarem mais fundos públicos em projectos e ideias dos seus amigos de corporação.

Hoje falou do aborto. Entendeu ser relevante anunciar ao mundo que foi um dos subscritores da petição que exige um novo referendo sobre a matéria. Razão que deveria ser suficiente para que o referendo se realizasse "já!".

Depois sistematiza os habituais argumentos dos habituais subscritores dos habituais "abaixo-assinados". Quase nada de assinalar.

Apenas isto - a dado passo, AMS narra as declarações de uma jurista nos idos de «1978, princípios de 79; interrogada pelo então "pivot" da "Informação 2", António Mega Ferreira, declarava ela que um dos motivos de caducidade das leis era a sua falta de observância prática. Quem então o disse chamava-se Leonor Beleza».

Não sei se a jurista Leonor Beleza teria realmente proferido isto. Entendo como provável que nem mesmo a proverbial memória de AMS possa reproduzir fielmente as expressões verbais ditas por alguém, na televisão, há 25 anos.

Mas o que interessa realçar é que, juridicamente, isso não é verdade.

A caducidade da lei não acontece quando esta deixa de ter "observância prática". Ou seja, o "desuso" não implica a cessação da vigência de qualquer lei.

No plano formal esta só caduca quando contém um termo concreto (um prazo de vigência, típico das leis temporárias) ou, ainda, quando as circunstâncias que a originaram deixaram de integrar a realidade dos factos - note-se que mesmo esta última situação é objecto de polémica entre alguma doutrina jurídica.

O patente incumprimento da actual legislação acerca do aborto, que já aqui salientei, não provoca a sua caducidade. Implica - isso sim - uma reflexão séria.

Que é exactamente aquilo que os (habituais) subscritores da petição que AMS tanto gaba não estão interessados nada em fazer. Bem como grande parte da actual maioria coligada.

Terrorismo e democracia 

A longa discussão sobre as diferenças entre Israel e a "Autoridade Palestiniana" têm vindo a ser discutidas, tanto na blogosfera como noutros media (veja-se, por exemplo, o texto de Helena Matos citado duas e três postas abaixo).

Hoje tivemos mais um exemplo dessas diferenças.

O Tribunal Supremo de Israel ordenou a suspensão da construção do famoso muro, num sector a noroeste de Jerusalém.

Mais do que saber se é licita ou não tal construção, mais do que saber "quem tem razão" na longa luta, esta decisão prova aquilo que aqui (como em tantos outros sítios) se tem vindo a defender. Israel, ao contrário da "Autoridade Palestiniana" e de muitos Estados na região, é uma democracia.

Parolices 

A SLB, Sociedade a Leiloar Brevemente, vulgo Benfica, voltou a encher as primeiras páginas. Eleições? A nova “mesquita”? Dirigentes de novo às turras? Não, desta vez é o centenário, pretexto óptimo para se preencherem mais umas dezenas de horas de emissões radiofónicas e televisivas, para remexer mais uma vez nas relíquias já gastas do passado, para repetir os habituais discursos e declarações balofas cheias de nada, para mais fanfarra e foguetório por coisa nenhuma. Enfim, uma simples efeméride de uma instituição em declínio, transformada em grande acontecimento nacional.

O Benfica é sem dúvida o clube mais português, o exemplo mais típico do país decadente que somos, comprazendo-se em liturgias glorificadoras do passado, na eterna ilusão de que o brilhantismo daquele é uma garantia do futuro. Só que este não se conquista numa postura de eterno saudosismo grandiloquente e parolo, de mão sempre estendida ao subsídio, mas enfrentando-o e lutando arduamente, algo que já não sabemos fazer.

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